Coronariografia: Orientações pré-procedimento

É recomendável que o paciente passe por uma consulta com a equipe de cardiologia intervencionista antes da realização do procedimento para tirar todas as dúvidas e receber as orientações sobre o procedimento a ser realizado, sobre seus riscos, sobre o preparo e sobre as recomendações após o procedimento. A consulta é ainda importante para o médico avaliar o quadro clínico, qual procedimento e qual o acesso a ser utilizado.

Listamos aqui as principais orientações pré-procedimento:

✔ Permanecer em jejum absoluto (alimentos líquidos e sólidos) por, no mínimo, 8 horas antes do procedimento. Líquidos sem resíduos, como água, café preto, chá e bebidas isotônicas, como Gatorade, podem ser ingeridas até 2h antes do procedimento. Se houver algum medicamento a ser tomado durante o jejum, o mesmo poderá ser administrado com a ingestão de pequena quantidade de água.
✔ As medicações a serem suspensas bem como o prazo de suspensão serão orientadas pela equipe médica assistente no momento da consulta. Os principais a serem suspensos são: metformina (48h), varfarina (5 dias), anticoagulantes diretos orais (Rivaroxabana, Dabigatrana, Edoxabana e Apixabana – 24h), dentre outros.
✔ É importante NÃO suspender os antiplaquetários (AAS, clopidogrel, ticagrelor ou prasugrel) e anti-hipertensivos.
✔ Informar o histórico de alergias medicamentosas e a iodo.

Coronariografia: Orientações pós-procedimento

Selecionamos aqui algumas dúvidas frequentes com relação ao cuidado após o cateterismo.

✔ Não é necessário dar ponto no local da inserção dos cateteres. A hemostasia é realizada através de dispositivos de selamento vascular, através de curativo compressivo, nos procedimentos por via femoral (virilha), ou através de pulseira compressiva, naqueles realizados por via radial (punho).
✔ O tempo de permanência hospitalar depende da via de acesso, variando de 3 (via radial) a 6 horas (via femoral) após a coronariografia.
✔ A dieta está liberada logo após a confecção do curativo no local.
✔ O retorno ao trabalho e à condução de veículos deve ser no dia seguinte, não só pelo possível incômodo no local da punção, mas também pelo possível efeito residual dos sedativos utilizados durante o procedimento que diminuem a atenção e os reflexos.
✔ Não é recomendado fazer atividade física intensa de 2 a 3 dias após o procedimento, principalmente se o procedimento for feito por via femoral.
✔ Após procedimentos realizados por via radial, o repouso e as limitações com relação à atividade física são menores, devido ao menor risco de complicações vasculares.
✔ No caso das medicações que foram suspensas para realização do procedimento, seu retorno deve ser orientado pelo seu médico, mas de forma geral, podem ser reiniciadas já na manhã seguinte ao procedimento.

Orientações gerais sobre a Angioplastia

Selecionamos aqui algumas dúvidas específicas para quem irá ser submetido a uma angioplastia coronária.

Pré-procedimento:
É preciso suspender o AAS?
É essencial que o paciente esteja não só em uso do AAS, mas também de um segundo antiplaquetário (clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor). Inicialmente, poderia se pensar que essas medicações deveriam ser suspensas (como são em determinadas cirurgias), por aumentarem o risco de sangramento, porém, são essenciais para evitar complicações cardíacas maiores, como a trombose de stent.

Durante o procedimento:
Existe alguma sedação?
À semelhança à coronariografia, uma sedação leve é indicada para um maior conforto do paciente durante o procedimento.

Vão colocar stent?
Hoje em dia, praticamente em todas as angioplastias são implantados stents. Inclusive, com a evolução desses dispositivos, implantamos apenas stents carreadores de fármacos, chamados de stents farmacológicos, que reduzem substancialmente as taxas de reestenose do stent.

Quanto tempo demora?
O tempo do procedimento é variável de acordo com o número de artérias a serem tratadas e à complexidade da obstrução, variando de 30 minutos a 2 horas.

Pós-procedimento:
É preciso ir para a UTI?
Após a angioplastia coronária, na maior parte dos casos, a recuperação deve ser feita em unidade intensiva ou semi-intensiva, por no mínimo, 12 horas.

Quanto tempo fica-se internado?
O tempo de internação hospitalar dependerá da complexidade do procedimento, podendo variar entre 24 e 72 horas.

O tratamento oncológico e os efeitos no coração

A sobrevida dos pacientes oncológicos vem aumentando progressivamente, devido aos avanços no tratamento e no diagnóstico das neoplasias. Entretanto, essa melhora pode ser limitada pelos efeitos adversos associados ao tratamento antitumoral. Particularmente, a cardiotoxicidade pode comprometer a efetividade da terapia antineoplásica, independentemente do prognóstico oncológico, afetando a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.

As antraciclinas, como a doxorrubicina, e os anticorpos monoclonais anti-HER2, como o trastuzumab, são as substâncias mais frequentemente associadas a cardiotoxicidade. Porém, vários outros quimioterápicos podem levar a alterações cardiovasculares transitórias ou definitivas, como hipertensão arterial, arritmia, vasoespasmo coronariano, disfunção miocárdica, tromboembolismo arterial ou venoso e doenças do pericárdio.

Os fatores associados a um maior risco de cardiotoxidade são: doença cardíaca prévia, fatores de risco cardiovasculares prévios (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo e obesidade), sexo feminino, idade inferior a 18 anos ou superior a 50 anos (trastuzumabe) ou 65 anos (antraciclinas), radioterapia torácica ou mediastinal, dose acumulada elevada de antraciclina e uso combinado de mais de um quimioterápico com risco de cardiotoxicidade.

Nesse contexto, o cardio-oncologista tem um grande papel na avaliação inicial cuidadosa pré-quimioterapia, com controle adequado dos fatores de risco cardiovasculares preexistentes, seguido por monitorização periódica de sinais precoces de toxicidade cardiovascular e implementação de medidas preventivas ou terapêuticas adequadas.

A gestação pode trazer riscos ao coração?

Um artigo de revisão publicado na revista Nature ano passado revela que 1 a 4% das gravidezes são complicadas por doenças cardiovasculares, que são a maior causa de morte materna durante a gestação.

Em mulheres que já possuem alguma doença cardíaca, como cardiopatias congênitas ou doença reumática, o aconselhamento antes da gravidez é essencial para avaliar o risco e para orientar sobre os cuidados necessários para preservar a saúde da mulher durante a gestação, como atividade física regular, controle adequado da pressão arterial, da diabetes e do peso.

A prevalência das doenças cardiovasculares adquiridas durante a gravidez (síndrome coronariana aguda ou dissecção de aorta) tem aumentado com o aumento da idade das mulheres ao engravidar e com a maior prevalência de obesidade, diabetes, tabagismo e hipertensão nessa população.

Outra doença preocupante durante a gravidez é a cardiomiopatia periparto, que felizmente é rara, mas que leva a dilatação e disfunção do coração, gerando um quadro de insuficiência cardíaca e arritmia cardíaca.

Profundas mudanças hemodinâmicas e metabólicas levam a uma sobrecarga no sistema cardiovascular materno durante a gravidez, podendo levar ao aparecimento ou à exacerbação dessas doenças.

Além do aconselhamento e do planejamento antes da gravidez, é essencial consultar regularmente o médico durante a gestação para que haja um controle adequado da saúde da mãe e do bebê.

A menopausa e a saúde do coração

As doenças cardiovasculares são pouco comuns nas mulheres abaixo dos 45 anos. Já naquelas acima de 60 anos, essas doenças já correspondem à maior causa de óbito em todo o mundo.

Vários fatores levam a este aumento da prevalência da doença arterial coronariana após a menopausa, como mudanças no metabolismo, levando a um aumento da prevalência de dislipidemia e de intolerância a glicose, além de disfunção vascular. Essas alterações se devem não só pela redução da produção de estrógeno endógeno, mas também por um aumento da dominância androgênica.

Inicialmente se achou que a terapia de reposição hormonal teria o papel de manter este efeito cardioprotetor do estrógeno endógeno, porém os estudos científicos demonstraram um aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Portanto, mudanças no estilo de vida são importantes para a redução dos sintomas iniciais da menopausa e para a manutenção da saúde da mulher. Essas mudanças incluem manutenção do peso saudável, abandono do cigarro, ingestão adequada de cálcio e vitamina D, aumento da prática de exercícios físicos e redução do consumo de álcool e cafeína.

O infarto do miocárdio na mulher

Estudos recentes observaram que uma a cada cinco mulheres vai sofrer um infarto do miocárdio, também chamado de ataque cardíaco.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço das mortes em mulheres no mundo. Dentre as doenças cardiovasculares, o infarto do miocárdio é a principal causa de óbito (12% em 2019) entre as mulheres no Brasil. Para se ter uma ideia da importância da doença, o câncer de mama foi responsável por 3% dos óbitos no mesmo ano.

Há 50 anos atrás, para cada dez mortes por infarto, 9 eram homens e apenas 1 era mulher. Atualmente, as mulheres representam quase a metade dos óbitos. O que levou a este aumento da prevalência do infarto? Provavelmente isso se deve ao estilo de vida adotado pela mulher contemporânea, no que diz respeito à carreira profissional. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, observamos um acúmulo de funções com as demais histórica e culturalmente impostas relativas à administração da casa, da família e dos filhos, contribuindo com uma piora significativa do padrão alimentar e com a redução da atividade física. Vimos, portanto, um aumento progressivo nas taxas de obesidade, tabagismo, hipertensão arterial e transtorno de ansiedade nas mulheres nas últimas décadas.

Um outro fato relevante é que o risco de uma doença cardiovascular é bem menor nas mulheres do que nos homens antes da menopausa. Após a menopausa, o risco de homens e mulheres se igualam. Há um efeito protetor do estrogênio nas doenças cardiovasculares. Além disso, a mortalidade do infarto na mulher é 50% maior que no homem.

Mas por que o infarto é mais grave na mulher? Há várias causas relacionadas à esse quadro mais grave:
• Mulheres possuem sintomas mais atípicos de infarto, como falta de ar, fadiga, náuseas, dores no estômago, podendo ser confundido com outras doenças.
• Mulheres costumam menosprezar os sintomas, deixando para procurar atendimento médico de urgência mais tardiamente.

Mais de 90% das mulheres que morreram devido a um infarto tinham fatores de risco, como obesidade, sedentarismo, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia (níveis elevados de colesterol ou triglicérides).

Mas vale lembrar que 80% das doenças cardiovasculares podem ser prevenidas com a mudanças no estilo de vida, como parar de fumar, começar a se exercitar e comer de forma saudável mantendo o peso na faixa ideal e o colesterol nos níveis adequados. Além de melhorar a saúde física, é observada um aumento da sensação de bem estar, com uma redução significativa nas taxas de transtornos de ansiedade e depressão.
Nunca é tarde para mudanças! Comece hoje mesmo a cuidar de você!

Dia Mundial da Saúde

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito de saúde vai além da mera ausência de doenças. Na verdade, só é possível ter saúde quando há um completo bem-estar físico, mental e social. Com essa definição, vemos que um indivíduo saudável deve estar bem psicologicamente, apresentar boas interações sociais, viver em segurança, ter perspectiva de futuro, entre vários outros aspectos.

“Construindo um mundo mais justo e saudável para todos” é o tema da campanha da OMS para o Dia Mundial da Saúde de 2021. Algumas pessoas têm a possibilidade de ter uma vida mais saudável que outras. Essa discrepância é influenciada pela renda familiar, pelo acesso a educação, a alimentação, a saneamento básico e ao serviço de saúde, pela moradia e ambiente sociocultural e pelas oportunidades de emprego.

A pandemia da COVID-19 tem impactado ainda mais essas comunidades que já eram mais vulneráveis, que são mais expostas à doença, possuem um menor acesso a serviços de saúde de qualidade e, além disso, estão mais sujeitas a consequências adversas causadas pelas medidas de restritivas nos diversos setores da economia durante a pandemia, levando a um aumento da pobreza e da fome.

Tratamento da Doença Arterial Coronariana

O tratamento da doença arterial coronariana possui três possíveis abordagens.

1. Tratamento medicamentoso:
Consiste no uso de remédios para diminuir a possibilidade de isquemia miocárdica, seja através da vasodilatação das artérias coronárias (nitratos) ou da redução da demanda de oxigênio no coração (bloqueadores de canal de cálcio e betabloqueadores). Outra função importante do tratamento medicamentoso é reduzir o risco de infarto, através da estabilização da placa ateromatosa (estatinas) e da redução do risco de trombose (ácido acetil-salicílico, o AAS).

2. Angioplastia coronária:
Trata-se de um procedimento médico minimamente invasivo para desobstrução das artérias coronárias, visando o restabelecimento do fluxo normal do sangue. É realizada através da inserção de um cateter na artéria radial (punho) ou femoral (virilha) até o coração, por onde é passado um pequeno balão, que é insuflado na região obstruída dentro artéria, sendo implantado uma prótese metálica (stent) na sequência. Nas duas últimas décadas, observamos um avanço enorme dos materiais, sendo que, atualmente, é utilizado o stent eluído com medicamentos (stent farmacológico) em quase todos os casos, reduzindo assim o risco de uma nova obstrução naquele local (reestenose).

3. Cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM):
Conhecida popularmente como “ponte de safena”, essa cirurgia utiliza segmentos das veias da perna (veia safena) ou de artérias – mais comumente a artéria mamária – para unir um vaso sem obstrução ao outro obstruído, criando-se uma rota alternativa ao fluxo sanguíneo (por isso o termo “ponte”).

Dependendo de cada caso, o médico definirá a melhor conduta a ser seguida. Mesmo sendo optado pela realização de uma revascularização miocárdica de maneira percutânea (angioplastia) ou cirúrgica (CRVM), o tratamento medicamentoso deve ser mantido para evitar a progressão da doença e da prevenção de um infarto.

Como prevenir a doença arterial coronariana?

A redução dos fatores de risco é a melhor forma de se prevenir da doença arterial coronariana. Alguns fatores são inerentes, como a idade, o sexo e a história familiar de doença coronária precoce em parentes de primeiro grau. Porém, vários outros são modificáveis através de mudanças no estilo de vida:

Parar de fumar;
Exercitar-se regularmente;
Manter uma dieta balanceada;
Controlar o peso corporal;
Controlar a pressão arterial, os níveis de colesterol e a glicose.